Destreza digital, conheça as principais competências de quem possui

Para Edison Kalaf, sócio-diretor da Opus Software, é necessário uma adaptação urgente das competências dos novos profissionais para que acompanhem a transformação digital em curso. Neste contexto, trabalhar com habilidade em ambientes digitais é considerado um diferencial.

Confira a seguir a entrevista dada pelo Kalaf, ao Insper, sobre Destreza Digital e as principais competências dos profissionais que a possuem.

1) O que é a destreza digital? Qual a relação da transformação digital com a destreza digital?

Vivemos hoje um momento em que praticamente tudo o que fazemos, tanto no nosso dia-a-dia como em nosso trabalho nas empresas, inclui algum componente de tecnologia digital. Como exemplo, há alguns dias fiquei sabendo que estávamos, aqui no Brasil, em meio a uma greve de bancários. E esta greve não estava impactando em nada meus afazeres e nem os compromissos de minha empresa. Para os leitores mais jovens talvez não haja este registro, mas há alguns anos atrás greves de bancários paravam o país, pois uma grande parte das transações financeiras eram realizadas fisicamente dentro de agências bancárias. Hoje existem instituições financeiras totalmente virtuais, sem agências físicas. E esta é uma tendência global.

Este cenário é identificado no mundo dos negócios como um momento de Transformação Digital que é a consequência da aplicação de novas tecnologias digitais, como por exemplo a Inteligência Artificial, que tem impactos diretos na cultura das organizações e nas profissões de seus colaboradores. De fato, o impacto da Transformação Digital no mercado de trabalho já é bastante significativo. Segundo a consultoria McKinsey, até 2030 teremos, em todo o mundo, uma redução considerável do trabalho manual nas empresas e um crescimento vertiginoso das atividades intelectuais e sociais. Assim, existe uma necessidade vital de uma rápida mudança de foco na competência dos profissionais, um “skill shift”, que permita a exploração eficiente de novas ferramentas e soluções digitais.

Neste cenário entra a Destreza Digital que é a capacidade dos profissionais de trabalhar com eficiência em um ambiente digital. E, naturalmente, as organizações devem trabalhar para este “skill shift” já que esta mudança cultural é uma das chaves para o sucesso da transformação digital nas empresas.

Confira também: Sócio-diretor da Opus Software, Edison Kalaf, fala sobre os impactos da crise na transformação digital das empresas

2) Quais são as principais competências de um profissional com destreza digital? Ser uma pessoa com aptidão tem relação com aceitar mudanças de maneira otimista? Quem são os profissionais mais aptos a ter destreza digital? Os nativos digitais ou isso é um mito?

Segundo o Gartner Group, as principais competências relacionadas à destreza digital são:

  • Trabalho colaborativo
  • Adaptabilidade
  • Aptidão tecnológica
  • Interesse por inovação
  • Autonomia (para decisão) e Automotivação
  • Capacidade de trabalhar com eficiência remotamente

Utilizando estas dimensões de análise, pesquisas do próprio Gartner mostram ainda que profissionais com alta destreza digital são até três vezes mais eficientes no cenário da transformação digital do que os profissionais com níveis medianos. E estas mesmas pesquisas mostram que competências digitais, ou seja, a facilidade em utilizar e aprender novas tecnologias digitais são os principais drivers para o desenvolvimento daquelas competências. Ou seja, a formação e a área funcional dos profissionais são fatores menos relevantes na capacitação para a aquisição destas competências. Desta forma, os nativos digitais e os profissionais mais inovadores e menos apegados a rotinas e regras, demonstram maiores níveis de destreza digital e do aperfeiçoamento das competências que a ela levam.

>>Leitura recomendada: Como não falhar numa jornada de transformação digital

3) Outro ponto relevante, certas pesquisas mostram que a destreza digital não tem relação com uma formação na área de TI. Ou seja, a pessoa pode ser programadora e ter baixa destreza digital.

De fato e como já comentado na resposta anterior, a área de formação não tem grande relevância na destreza digital e no seu aperfeiçoamento. Pesquisas específicas realizadas pela McKinsey e confirmadas pelo Gartner mostram que nos departamentos de TI das empresas pesquisadas apenas 18% dos colaboradores apresentam alta destreza digital. Este número não é significativamente diferente dos 16% de alta destreza dos líderes e executivos ou ainda dos 10% das outras áreas funcionais, como o RH ou o Departamento Financeiro.

Estas pesquisas mostram ainda que, em geral, na grande maioria das organizações, poucos profissionais demonstram alta destreza digital. E que esta destreza digital está mais associada às competências digitais do que à área de formação do profissional.

4) Por qual razão essa habilidade será tão importante no futuro? Para quais cargos ou áreas ela fará mais diferença: TI, Marketing, Vendas, Financeiro? Todas? Por quê?

O momento de transformação digital atual exige grandes mudanças culturais nas organizações, que precisam promover e manter um ambiente de inovação, agilidade, flexibilidade e propensão ao risco.

Esta nova cultura organizacional tem como base profissionais capazes de extrair o maior valor possível das novas tecnologias digitais, cada vez mais presentes a acessíveis nos mercados. Os novos desafios e oportunidades a partir da adoção de tecnologias como inteligência artificial, machine learning, computação em nuvem, mobile solutions, big data, robotic process automation, plataformas digitais exigirão profissionais com a destreza digital necessária para o seu aprendizado e a sua exploração.

Naturalmente nada disso vai acontecer sem esforço. Os níveis executivos devem priorizar em suas agendas os investimentos necessários na preparação de suas organizações para este movimento. Ou seja, do ponto de vista organizacional a busca da destreza digital é uma estratégia.

5) Então o que alguém que deseja se tornar um profissional digital deve fazer? Pois hoje há um entendimento de que muito da sabedoria digital se obtém como autodidata. Ou seja, é possível aprender muita coisa em fóruns, networking e cursos online. Esse ímpeto de buscar conhecimento de maneira espontânea e autônoma é uma condição para desenvolver essa destreza?

Para alcançar uma alta destreza digital, segundo os institutos de pesquisa e grandes consultorias como o Gartner e a McKinsey, os profissionais devem se aperfeiçoar nas seguintes disciplinas:

  • Consciência do ambiente de negócios
  • Modelo mental aberto a novas formas de trabalho
  • Networking
  • Trabalho colaborativo e em grupo
  • Entendimento do relacionamento entre tecnologia e processos

As fontes para o aperfeiçoamento nestas disciplinas são muitas e as próprias empresas deverão organizar esforços e orientar seus profissionais para aumentar a destreza digital. Porém, de fato, a busca consciente por este skill shift tão necessário nos dias de hoje pode, sim, criar uma grande diferenciação para um profissional, já que a enorme maioria dos profissionais em todo o mundo apresenta baixa destreza digital.

6) Ainda sobre os novos modelos de trabalho, cada vez mais empresas usam modelos ágeis e atuam em Squads. De que maneira a destreza digital ajuda a atuar nesses modelos?

A destreza digital faz parte da adaptação das organizações às metodologias ágeis. Todas as metodologias ágeis, cujo principal valor é a antecipação do retorno sobre o investimento em projetos de qualquer natureza, preconizam a criação de pequenos times autossuficientes e autocontidos e com poder de tomada de decisão dentro do seu contexto de atuação, ou seja, autônomos. Este modelo organizacional exige o trabalho em grupo, uma boa comunicação entre os times, chamados de “Squads”, empoderamento dos colaboradores e alto grau de liberdade.

Assim, a destreza digital, base para a adoção da metodologia ágil, é um dos principais requisitos para o sucesso das organizações neste momento de acelerada transformação digital.

>>Leitura recomendada: Squad ágil – um modelo para aumentar a autonomia e responsabilidade na cultura empresarial

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